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“QUANDO AS SOMBRAS AMEAÇAM O CAMINHO, A LUZ É MAIS PRECIOSA E MAIS PURA."
(Espírito Emmanuel, in "Paulo e Estêvão", romance por ele ditado a Chico Xavier)
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quinta-feira, 26 de agosto de 2010
PELO FIM DO SACRIFÍCIO DE CÃES BEAGLES! ABAIXO-ASSINADO!
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domingo, 22 de agosto de 2010
FIM DE PLANTÃO NO BUQUE
– Nêgo num presta mêmo! Quand’é muleque só si apega no do aleio, e quand’ vira ômi só presta pra batipau... ficar encostado em buque. – disse agravosa Duvirge, a sarará com vista obumbrada, saracoteante, à amiga de vetusto ofício, Escolástica, nome-de-guerra Fulorzinha.
Ambas com pernas trôpegas, cervejadas, pingadas. Fulorzinha, com a glote ruidosa, arfava feito uma vaca corrida no pasto. Calada. Bituca embrasando queimante entrededos.
– Se tu não parar com essa de nêgo, já já vou lhe danificar a terceira geração, sua jia!!
Sob plácidos passos, porém largos, segurando um punho fêmeo em cada mão, o tira se deteve à porta da cela-3. Largou as presas recostadas na parede, equilibradas nas magras pernas. Enfiou a rechonchuda mão – ferramenta de iniciais corretivos quando preciso – no bolso da cotiada calça de brim, tirando um molho com seis chaves e um penduricalho de brinde.
Rotineiro, sem sequer olhar o alvo, olhando pras duas "freguesas" Zé Doca enfiou certeiro a chave maior no desgastado buraco da fechadura. Rodou. Cléque! Empurrou rangente triste a porta de ferro, que se abriu seca chorante.
– Pronto, gente boa! Podem se acomodar que a conta do dormitório hoje já 'tá paga... pelo povo! Mas a comida sou eu quem dá. É só me encher mais um pouco. Tem pau de manhã, pau no almoço, um “cházinho” às três e pau-de-arara de noite, que é pro hóspede não se incomodar com falta de agasalho; aqui deita aquecido.
Nada daquilo ouviram nem riram. Elas. Nada. Entupid'ouvidos com bagaços de canas, camas, e brincos bijouteiriços.
Duvirge, arrotava dragãomente aguardente ordinária e lúpulos; jogou o ébrio corpo travado sobre a parte inferior do beliche de verde concreto nu da cela. Babando o bambo sutiã adormeceu, mais frouxa que barrigueira de cavalo velhaco.
Escolástica, zombada pelo destino até no próprio nome, analfabeta, mal se sustendo nos gambitos, rendera-se à friúra do piso; a cama do alto do beliche lhe parecera o Everest! Amodorrou-se ali mesmo, encolhida feito fosse ferida.
Chuva fina. Raros trovões. Relâmpagos longínquos riscavam seus fósforos. À calma madrugada no buque sucedeu a luz do dia novo em folha. Ressurgiu a vida normal. Mas difícil. Cabeças pesadas, toneladas.
Segunda-feira. Fim do plantão do fim de semana. Oito e meia. No Gabinete do delegado:
– Pronto pros depoimentos das muié, seo Dotô!
As duas rameiras. Frente-a-frente com o delega no buque, cabelos de vassoura velha. Prantivas crocodilosas, de plano aventuraram-se a assoalhar de argumentos a “injustiça” do xilindró lhes aplicado pelo tira Zé Doca. Discorriam juntas o palavrório baralhado, em coro, ao delegado.
Gravata torta em colarinho, nó frouxo. Mão esquerda no queixo, cabisbaixo, fingindo ouvi-las, o doutor delegado cofiava a grisalha barbicha. Com a mão direita riscava um papel comum com a caneta-de-brinde barata.
De súbito, entojado pelo cheiro de álcool dormido, o delegado levantou a cabeça e as interrompeu, voltando-lhes a palma da mão direita em basta!:
– Zé Doca, não vou tomar depoimento nenhum hoje! Solt'essas pestes!! O fogo delas já apagou. Abre vaga aí na nossa pensão...
Confiante no subalterno, o delegado desviou tornados olhos para os papéis sobre a mesa. A nota-de-prisão.
Duvirge e Fulorzinha, inda de bocas acres leve sorriram irônicas ao tira prendedor, sem nem escovação.
Disfarçado do chefe que mirava olhos à nota-de-prisão/soltura sobre a mesa, Zé Doca respondeu às vendedoras-de-corpos, simulando um abotoamento na sua camisa frouxa: no próprio peito, mostrou-lhes mão fechada e dedo médio em riste...
– ... nóis pod'ir, dotô?
– Vai! Sumam daqui! Antes que eu vomite e perca a paciência!! ...e vê se tomem banho...
Comentário: crônica escrita em 2007, já publicada no meu blog A BALESTRA perdido ano passado.
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segunda-feira, 16 de agosto de 2010
À MARchTA: AVANTE!
To dream the impossible dream Sonhar o sonho impossível
To fight the unbeatable foe Combater o inimigo imbatível
To bear with unbearable sorrow Suportar uma dor insuportável
To run where the brave dare not go Ir aonde os corajosos não se atrevem ir
To right the unrightable wrong Corrigir o erro incorrigível
To be better afar than you are Ser muito melhor do que se é
To try when your arms are too weary Tentar com os braços exaustos
The reach the unreachable star Alcançar a estrela inalcançável
This is my quest, to follow that star Esta é minha busca, seguir aquela estrela
No matter how hopeless, Não importa quão sem esperança,
No matter how far Não importa quão distante
Without question or pause Sem perguntar ou descansar
To be willing to march into hell Estar disposto a marchar para o inferno
For a heavenly cause Por uma causa divina
And I know if I'll only be true Sei que somente sendo sincero
To this glorious quest Nesta gloriosa busca
That my heart will lie peaceful and calm Que meu coração ficará em paz e calmo
When I'm laid to my rest Quando eu me deitar no descanso final
And the world would be better for this E o mundo seria melhor por isto
That one man scorned and covered with scars Que um homem desprezado e coberto de cicatrizes
Still strove with his last ounce of courage Ainda luta com o que resta de sua coragem
To reach the unreachable star Para alcançar a estrela inalcançável
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
MEU PIS
Ontem recebi o abono do PIS.
Tão pouco. ¿Sab'o qu'eu fiz?
Um vinh'ordinário, coisas pra casa,
“Contos negreiros”, do Marcelino Freire
E uma caixa de giz. Só.
Marcelino Freire - "Contos Negreiros", de julho/2005 - Prêmio Jabuti 2006 como “Melhor Livro de Contos”. Edit. Record. Inspirado em obras de Castro Alves e Cruz e Sousa, são "16 Cantos", onde os negros, direta e indiretamente, são personagens das narrativas.
domingo, 8 de agosto de 2010
VERSOS QUE CANTEI PARA MEU PAI, SONTONHO
"AO MEU PAI, O FAZEDOR DE PÃES E HOMEM"
Pai, teus ouvidos te enganam, e os olhos também.
Teus joelhos doloridos, te incomodam eu sei.
Trazem as marcas de um tempo sofrido
e de glórias também. Oh, meu pai.
Pai, desculpe os acordes mal escolhidos,
desta canção que eu fiz pra você,
Pra lembrar nossos bons tempos vividos,
E os problemas esquecer.
Te lembro atrás do velho balcão, vendendo de tudo, e até o pão,
que você fazia para as bocas dignas, ou não, ou não?
Onde estará nossa freguesia, que eu sei, fazia tua alegria.
No balcão jogar conversa fora e baralho
Te dava mais prazer naquele trabalho.
Hoje, trago boas lembranças daquele meu tempo de criança.
Me vejo traquina e levado. Por vezes, eu sei, te deixei zangado
Pelas bagunças na escola ou de secar no forno e queimar os seus sapatos.
Pai, lembra meu olhar de felicidade, quando eu vendia os pães na cidade?
Pra mim era duro o frio das manhãs, mas foi uma lição que me ajudou
A formar o homem-menino que pra você ainda hoje eu sou.
Quando lembro daquilo aumenta em mim o amor e o orgulho por você, meu pai!
Pai, você que só cursou a escola da vida, e se acha caipira
Já mostrou que é um diplomado, vivendo sua velhice sossegado.
Pai, das coisas que aprendi com você, uma eu sei, não vou esquecer
Que ser pobre não é defeito; o importante é ser direito.
Comentário: já publicados no blog que perdi ano passado, estes são versos d’uma canção que em 1999 escrevi para o meu pai, Antonio Balestra, o padeiro “Sontonho”, como eu o chamava carinhosamente.