Nada melhor para retomarmos o timão do "A BALESTRA" neste 2014 do que repercutir o belíssimo artigo sobre pequenos "mistérios" de nossa língua portuguesa, escrito pelo jornalista AIRTON DONIZETE*, originalmente publicado no Blog do Rigon, de Maringá (PR), aqui com destaques nossos.
O certo, o эяяado e a língua portuguesa
Não faz muito tempo, houve aquela celeuma de parte da mídia em torno de um livro didático, lançado pelo governo federal, que mostrou variantes da língua portuguesa, mas foi confundido com o certo e o errado.
Na época, a consultora de língua portuguesa do Grupo Folha, Thaís Nicoleti de Camargo, escreveu: “A ideia (do livro) é mostrar que realizações sintáticas como ‘os livro’ ou ‘nós pega’ têm uma gramática, que, embora diversa da que sustenta a norma de prestígio social, constitui um sistema introjetado por um vasto grupo social – daí ser possível falar em variante linguística”.
Portanto, a respeito de dois embates que tive recentemente sobre gramática, que me levaram a escrever este artigo, digo que fizemos barulho por quase nada. Meus interlocutores estavam preocupados apenas com uma faceta da língua: a norma culta. Que não é mais nem menos importante. Ela faz parte da língua, como outra variante qualquer. O problema é que o senso comum confunde a norma culta com a língua.
Para andar pela roça não devemos apenas aprender o caminho convencional. Mas conhecer o café, o arroz, o feijão, o milho e os limites do sítio, como fazia minha mãe. Aí, vamos fugir da "educação bancária", como ensina Paulo Freire.
Por que tanto barulho se alguém diz a presidenta ou a presidente (pela norma culta, ambos estão certos). Ou se fulano escreve as placas do carro (Recomenda-se a placa). Não estou dizendo que não se ensine a norma culta, que é um código de mediação necessário. A questão é bem mais embaixo. Estamos diante da língua com suas muitas possibilidades.
Finalizo com o professor Marcos Bagno: “As regras das variedades populares são, muitas vezes, bem mais racionais do que as regras normatizadas. Criando-se assim um ambiente acolhedor e culturalmente sensível, o aprendizado da tão reverenciada ‘norma culta’ se torna menos traumático do que sempre foi”.
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(*) AIRTON DONIZETE, jornalista, mestrando em Comunicação Visual pela UEL e especialista em linguística pela UEM
Fonte: by Blog do Rigon - Maringá (PR)
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